Cavitação, Ultracavitação, Lipocavitação, Ultrassom focalizado, Ultrassom terapêutico?

O que significa tudo isso?
17 de junho de 2013 por Estela Sant'Ana

Uma das dúvidas mais comuns ligada aos tratamentos estéticos atuais está centralizada uso do ultrassom para o tratamento da gordura localizada.
O que é realmente cavitação? E as designações atreladas: ultracavitação, lipocavitação, megacavitação  e etc, etc e etc?
Cavitação é um fenômeno físico que ocorre quando uma energia mecânica interage com fluidos em ondas de compressão e descompressão produzindo bolhas de gás. A dimensão dessas bolhas varia de acordo com a intensidade de energia aplicada e com a viscosidade do meio no qual é aplicada. Um exemplo simples é água fervendo na panela, onde podemos comparar as bolhas de gás visualizadas no fundo da panela como cavitação estável e, quando ela sobe e explode na superfície do líquido como cavitação instável.
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Quando aplicamos ultrassom terapêutico nos tecidos biológicos um fenômeno parecido ocorre, porém a dimensão das bolhas é extremamente menor (10-6mícron). Também precisamos considerar que, diferentemente da água, os tecidos biológicos não são fluidos nem homogêneos. Quando a cavitação é produzida, oscilações moleculares acorrem, similares às demostradas na figura e essas oscilações podem desencadear inúmeros fenômenos fisiológicos.
Com objetivos estéticos, o ultrassom pode ser usado para estimular a ativação celular. Por exemplo, nos fibroblastos pode estimular a síntese de proteínas de colágeno e de elastina, induzir lipólise nos adipócitos, dentre outros. Um bom exemplo são os equipamentos com transdutor ou cerâmica curva, que focalizam e concentram a energia num ponto especifico a profundidade controlada e que usam a cavitação focalizada para induzir apoptose (morte celular programada) que aos poucos leva o adipócito a se fragmentar. Esse adipócito, posteriormente é removido do local por macrófagos. Essa técnica pode ser descrita como “lipo sem cortes”.
As diferentes estruturas que compõem os tecidos biológicos como células, fibras proteicas, moléculas, dentre outras, respondem ao estímulo mecânico produzido pelo ultrassom de forma distinta. Isto também depende da magnitude da intensidade (dose de energia aplicada).
Agora já dá para tirarmos algumas conclusões:
  1. Cavitação é um fenômeno físico, não o nome de uma técnica.
  2. O marketing precisa dar nome às coisas, seja um equipamento ou uma técnica e podem fazer uso de termos relacionados.
Essa estratégica de marketing não é considerada errada, porém o quando o termo escolhido passa a gerar confusão entre os usuários e, mais grave ainda, entre os formadores de opinião. Aí sim, temos algo preocupante. A velocidade com que as novas tecnologias chegam às clínicas é muito maior que a velocidade que elas chegam aos livros texto, assim, ficamos à mercê dos fabricantes e vendedores e a forma com que algumas empresas usam esse viés a seu favor entra em questão.
Ultrassom compreende frequências sonoras acima de 20 kHz, essas frequências são tão altas que o ouvido humano não consegue detectar, apesar de em frequências mais próximas desse valor, entre 40 e 60 kHz, algumas pessoas conseguirem ouvir um zumbido fino.
Chamamos ultrassom terapêutico equipamentos que usam a energia mecânica produzida para fins terapêuticos, sendo as frequências mais conhecidas 1 e 3 MHz. Isso não significa que só essas servem para estes fins e, a todo o momento, surgem novas máquinas, sejam para tratamentos estéticos ou até mesmo para o tratamento de câncer. Uma gama de novas tecnologias que usam diferentes configurações de cerâmicas/transdutores, de frequências variáveis, de formas e uso pretendido distintos vêm sendo produzidos: podem ser planos (não focalizados), curvos (focalizados), multifocais, de grandes dimensões ou dimensões minúsculas como os de uso intravascular (cirúrgicos). Isso é muito bom! Porém, para não gerar equívocos, informações que facilitem a compreensão destas tecnologias devem melhor esclarecidas.
Profissionais que atuam com estética precisam saber que frequências mais baixas (na faixa dos kHz) produzem ondas com pulsos mais distantes uns dos outros que conseguem penetrar nos tecidos com maior facilidade, portanto mais profundamente. Nas frequências mais altas (em MHz), como os pulsos são muito próximos, eles têm mais dificuldades em passar pelas estruturas, daí são absorvidos mais superficialmente. Vocês já se perguntaram por que a técnica descrita como “cavitação” com frequências baixas (40 a 60 Hz) na região abdominal precisa ser aplicada transversalmente fazendo uma prega de pele?
Outro questionamento é: quando o tratamento com ultrassom de baixas frequências em áreas como pernas e glúteos, na maioria das vezes, não é possível pinçar e fazer a tal “prega de pele”. Nestas condições, é muito comum o paciente relatar um forte zumbido nos ouvidos. Alguns profissionais que defendem a técnica relatam que isso provavelmente ocorre por que a onda ultrassônica em baixas frequências penetra na pele, gordura, músculos e reflete nos ossos até chegar aos ossículos dos ouvidos. Ai pergunto, a questão “segurança operacional” nessa modalidade de tratamento não deveria ser melhor  investigada?