segunda-feira, 20 de julho de 2015

   Essa matéria tem como objetivo e conhecimento respeitando o autor,

Cartilagem fragmentada para aumento do radix nasal
Autores: Manoel Alves Vidal; Diogo Kokiso; Bruno Peres Vidal; Auro Marcos Levy de Andrade Filho

DOI: 10.5935/2177-1235.2015RBCP0109
Descritores: Rinoplastia; Cartilagem; Enxerto; Cartilagens nasais.
RESUMO:
INTRODUÇÃO: A principal queixa dos pacientes que procuram as clínicas de cirurgia plástica para serem submetidos a rinoplastia é o dorso nasal. A utilização de enxerto cartilaginoso em radix nasal é rotineira e suas indicações habituais são para diminuir o ângulo nasofacial inadequado ou para redefinir o ponto de transição do radix, para alongamento ou encurtamento do nariz. Este trabalho tem o intuito de apresentar a enxertia de cartilagem do radix nasal, com cartilagem fragmentada e introduzida até o radix com seringa.
MÉTODO: Foi analisado o ato cirúrgico e seu resultado através da revisão de prontuários dos pacientes submetidos ao ato cirúrgico no período de 1/maio/2011 a 1/maio/2013, totalizando 37 casos.
RESULTADOS: Em todos os casos, conseguiu-se o resultado planejado de aumento do radix nasal com sucesso. Não foi observada absorção clinicamente detectável do enxerto.
CONCLUSÃO: A utilização do enxerto de cartilagem fragmentada realizada da forma descrita neste trabalho mostrou-se eficaz para a elevação do radix nasal.
INTRODUÇÃO

A principal queixa dos pacientes que procuram as clínicas de cirurgia plástica para serem submetidos a rinoplastia é o dorso nasal. O conceito do dorso nasal esteticamente harmonioso pode ser subjetivo. McKinney & Sweis1, em 2002, publicaram um sistema de mensuração para definir a proporção ideal do nariz, fornecendo ao cirurgião parâmetros para definir um nariz balanceado com a proporção de 2:1:1:0,75, em relação a comprimento, projeção, altura do rinion e altura do radix. Alterando a ponta e o dorso para balancear o nariz, pode ser necessário elevar ou abaixar o radix nasal.

A utilização de enxerto cartilaginoso em radix nasal é rotineira e suas indicações habituais são para diminuir o ângulo nasofacial inadequado2 ou para redefinir o ponto de transição do radix, para alongamento ou encurtamento do nariz3. Historicamente, os enxertos mais utilizados são de cartilagens íntegras onlay. Entretanto, a utilização dos enxertos fragmentados recuperou a importância após recentes publicações em rinoplastia4,5.

Neste trabalho, propusemos a utilização do enxerto de cartilagem fragmentada em radix para elevação deste e assim obter um nariz mais proporcional na relação ponta-dorso-radix. Este trabalho tem o intuito de apresentar enxertia de cartilagem do radix nasal, com cartilagem esmagada, fragmentada e introduzida até o radix com seringa, obtendo-se um resultado satisfatório sem aparência de enxerto.

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa - CEP (CAAE: 17737913.8.0000.5430), na data de 30/julho/2013, sob o número do parecer 342.764.


MÉTODOS

Este trabalho foi realizado através da revisão de prontuários dos casos submetidos à enxertia do radix e do acompanhamento longitudinal dos pacientes no pós-operatório. Os pacientes foram avaliados com 7, 15 e 30 dias, 3 e 6 meses, e 1 e 2 anos. Foi avaliada a manutenção do contorno dorsal e indagado sobre a satisfação do paciente.

Foram realizados 37 casos no período de 1 de maio de 2011 a 1 de maio de 2013. Todos os casos com o acesso através de endorrinoplastia, com anestesia local e sedação.

O descolamento do dorso é estendido até o radix nasal, confeccionando-se a loja receptora dos enxertos com descolamento na área demarcada, no exato tamanho a ser preenchido pelo enxerto. O volume a ser enxertado é determinado ao injetar o anestésico no radix, até atingir a linha dorsal estética. Esse volume de anestésico é o mesmo a ser utilizado de cartilagem fragmentada.

Os enxertos obtidos foram a partir do septo nasal, do dorso nasal e da parte lateral de cartilagem alar. Após o isolamento do enxerto de cartilagem, este é esmagado no esmagador de Cottle (Figura 1) e então seccionado em fragmentos de 2 mm sobre a placa de Sheen, com lâmina de bisturi n.º 11 (Figura 2).


Figura 1. Cartilagens utilizadas.


Figura 2. Cartilagens fragmentadas.



A cartilagem esmagada e fragmentada é então introduzida em uma seringa de insulina (1 mL) previamente preparada6 (Figura 3), com a secção da ponta com tesoura de Mayo grosseira.


Figura 3. Seringa preparada.



Prossegue-se com a rinoplastia de acordo com o planejamento realizado e, no fim do ato cirúrgico, ao proceder-se ao fechamento da incisão, é mantida aberta uma parte da incisão intercartilaginosa na posição superior de uma das narinas. Então, a seringa é introduzida neste orifício até que sua ponta alcance o radix nasal (Figura 4). O enxerto fragmentado é introduzido lentamente, pressionando o êmbolo, e moldado de acordo com o efeito desejado (Figura 5). Este procedimento pode ser repetido até atingir o volume necessário, geralmente pré-determinado pela injeção do anestésico local.


Figura 4. Introdução da seringa.


Figura 5. Introdução da cartilagem.



Com o enxerto já introduzido e moldado (Figura 6), inicia-se a microporagem do nariz, com a primeira fita acima da área enxertada, para evitar o deslocamento dos enxertos. Micropora-se a seguir do radix à ponta nasal (Figura 7).


Figura 6. Cartilagem posicionada e moldada.


Figura 7. Microporagem.



RESULTADO

Os 37 casos foram acompanhados no pós-operatório com avaliação periódica durante 7, 15 e 30 dias, 3 e 6 meses, e 1 e 2 anos. Submeteram-se, ao ato cirúrgico, seis homens e 31 mulheres, com idade entre 18 e 55 anos. Em todos os casos, conseguiu-se o resultado planejado de aumento do radix nasal com sucesso (Figuras 8-13). O enxerto fragmentado consolidou-se durante o acompanhamento clínico tardio, sem apresentar deformidade de forma. Não foi observada absorção clinicamente detectável do enxerto, comparando-se a linha dorsal nas fotos do pós-operatório. Foi observado abaulamento por correção excessiva em três casos (8%) e deslocamento para o dorso com formação de supradesnivelamento sobre o osso nasal em dois casos (5%). Em avaliação tardia, após 2 anos, 17 casos (46%) apresentaram o enxerto palpável durante o exame físico.


Figura 8. Pré-operatório - caso 1.


Figura 9. Pós-operatório 3 meses - caso 1.


Figura 10. Pré-operatório - caso 2.


Figura 11. Pós-operatório 2 anos - caso 2.


Figura 12. Pré-operatório - caso 3.


Figura 13. Pós-operatório 2 anos - caso 3.



Os pacientes operados ficaram satisfeitos com o resultado no pós-operatório precoce e também tardio.


DISCUSSÃO

Historicamente, o enxerto de cartilagem mais utilizado foi seu uso onlay. Entretanto, o uso de cartilagem fragmentada tem sido bastante documentado, inclusive com sua utilização ampliada, publicada por Peer7,8. Seu uso em rinoplastia voltou a entrar em pauta com a publicação de Erol com Turkish Delight9, com a proposta de envolver a cartilagem fragmentada em Surgicel para diminuir a perceptibilidade da cartilagem e, ao mesmo tempo, possibilitar a modelagem externa em sua aplicação no dorso.

Daniel e Calvert publicaram sua experiência com a utilização do Turkish Delight com o resultado insatisfatório, observando a reabsorção do enxerto4. Comparativamente, utilizaram de forma semelhante o enxerto de cartilagem fragmentada envolto em fáscia temporal e o enxerto sem invólucro externo, obtendo resultados satisfatórios, com resultado clínico positivo5.

Em uma análise histológica realizada por Brenner et al.10, foi observado, ao implantar o enxerto em ratos, que o enxerto de cartilagem fragmentada envolto por Surgicel aparentou iniciar uma resposta inflamatória e subsequente absorção10.

Em nova análise realizada por Erol, utilizando cartilagens comprimidas e fragmentadas (0,5 a 1,0 mm) sem material envolto, para preencher as áreas através da utilização de seringas desenvolvidas pelo autor, obteve-se resultado com total preenchimento do pouch preparado, concluindo que a utilização da cartilagem sem invólucro é mais previsível por consistir apenas de cartilagem11.

Neste trabalho, em comparação com as publicações de Erol e Daniel9, utilizamos cartilagens fragmentadas de tamanho maior (cerca de 2 mm em vez de 0,5 a 1 mm) sem que se apresente maior visibilidade deste enxerto e não utilizamos qualquer invólucro, com as vantagens de não utilizar material exógeno como o Surgicel e de não causar um trauma adicional para a obtenção da fáscia temporal.

A forma utilizada para introdução da cartilagem no radix é semelhante à utilizada por Gustavo Moreira Costa de Souza12; entretanto, acreditamos que o enxerto livre pode migrar para outras regiões e não utilizamos em áreas, que não o radix, com descolamento pequeno. A ponta da seringa é cortada como utilizado por Daniel & Calvert4. Os resultados observados no nosso estudo vão ao encontro com o publicado por Gustavo Moreira Costa de Souza12, por não se apresentarem grande absorção e irregularidades na área enxertada.

As dificuldades técnicas observadas na utilização do enxerto solto podem ser sanadas através de detalhes técnicos, como: 1) área de descolamento restrito apenas ao volume a ser enxertado; 2) introdução do enxerto através de seringa de 1 mL com a ponta cortada, e 3) microporagem imediata após a introdução do enxerto para moldagem e evitar sua mobilidade.


CONCLUSÃO

A utilização do enxerto de cartilagem fragmentada realizada da forma descrita neste trabalho mostrou-se eficaz para a elevação do radix nasal. Esta forma de enxertia não causa deformidade, pode ser palpável após a sua consolidação, mas não visível como ocorre em enxertos onlay, e não demonstra absorção de repercussão clínica, podendo ser utilizada com segurança.


REFERÊNCIAS

1. McKinney P, Sweis I. A clinical definition of an ideal nasal radix. Plast Reconstr Surg. 2002;109(4):1416-8, discussion 1419-20. http://dx.doi.org/10.1097/00006534-200204010-00033. PMid:11965001.

2. Sheen JH, Sheen AP. Aesthetic rhinoplasty. 2nd ed. St. Louis: Mosby; 1987.

3. Gunter JP, Landecker A, Cochran CS. Frequently used grafts in rhinoplasty: nomenclature and analysis. Plast Reconstr Surg. 2006;118(1):14e-29e. http://dx.doi.org/10.1097/01.prs.0000221222.15451.fc. PMid:16816668.

4. Daniel RK, Calvert JW. Diced cartilage grafts in rhinoplasty surgery. Plast Reconstr Surg. 2004;113(7):2156-71. http://dx.doi.org/10.1097/01.PRS.0000122544.87086.B9. PMid:15253210.

5. Daniel RK. Diced cartilage grafts in rhinoplasty surgery: current techniques and applications. Plast Reconstr Surg. 2008;122(6):1883-91. http://dx.doi.org/10.1097/PRS.0b013e31818d2104. PMid:19050542.

6. Chang CS, Bergeron L, Chen PK. Diced cartilage rhinoplasty technique for cleft lip patients. Cleft Palate Craniofac J. 2011;48(6):663-9. http://dx.doi.org/10.1597/09-169. PMid:21091138.

7. Peer AL. Diced cartilage grafts. Arch Otolaryngol. 1943;38(2):156-65.http://dx.doi.org/10.1001/archotol.1943.00670040167008.

8. Peer LA. Extended use of diced cartilage grafts. Plast Reconstr Surg. 1954;14(3):178-85.http://dx.doi.org/10.1097/00006534-195409000-00002. PMid:13204206.

9. Erol OO. The Turkish delight: a pliable graft for rhinoplasty. Plast Reconstr Surg. 2000;105(6):2229-41, discussion 2242-3. http://dx.doi.org/10.1097/00006534-200005000-00051. PMid:10839424.

10. Brenner KA, McConnell MP, Evans GR, Calvert JW. Survival of diced cartilage grafts: an experimental study. Plast Reconstr Surg. 2006;117(1):105-15. http://dx.doi.org/10.1097/01.prs.0000195082.38311.f4. PMid:16404256.

11. Erol OO. "Injection" of compressed diced cartilage in the correction of secondary and primary rhinoplasty: a new technique. Plast Reconstr Surg. 2012;130(5S1):44.http://dx.doi.org/10.1097/01.prs.0000421747.61781.dc.

12. Souza GMC, Costa SM, Penna WCNB. Enxerto de cartilagem picada injetável para rinoplastia: método e experiência do Hospital Felício Rocho. Rev Bras Cir Craniomaxilofac. 2012;15(1):17-20.










Departamento de Cirurgia Plástica, Faculdade de Medicina de Catanduva (FAMECA), São Paulo, SP, Brasil

Autor correspondente:
Manoel Alves Vidal
Faculdade de Medicina de Catanduva
Avenida Orlando Zancaner, 497 - Vila Amendola
Catanduva, SP, Brasil CEP 15801-120
E-mail: manoel.a.vidal@gmail.com

Instituição: Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina de Catanduva, São Paulo, SP, Brasil.

Artigo submetido: 4/2/2014.
Artigo aceito: 13/12/2014.

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